quarta-feira, 10 de novembro de 2010

"Economia de casino"

Escreve Rui Cardoso no editorial da edição do Courrier Internacional de Novembro:
[…] Os circuitos financeiros globalizaram-se, mas isso não lhes deu mais solidez. Durante anos, o acesso ao crédito foi barato e os Estados partiram do princípio que se podiam financiar indefinidamente a juros irrisórios.
Até que a economia de casino desabou, os juros subiram e as contas públicas começaram a entrar no vermelho. Quanto mais pobres e periféricos eram os países (leia-se Portugal, Espanha, Grécia, Irlanda, etc.), maior foi a onda de choque. Ironicamente, são as nações que nunca chegaram a desenvolver um Estado social à sueca ou à alemã, aquelas que maiores cortes fazem na (pouca) protecção social que (ainda) asseguravam.
Ouvindo algumas das explicações avançadas para a crise, parece que especulação financeira e o descontrolo dos mercados não foram tidos nem achados para o que se passou. E que o modelo ultraliberal e globalizado era um primor de eficiência. Os trabalhadores é que teimam em sonhar com mordomias como o direito a condições decentes na fábrica ou a poderem gozar a velhice em paz (na China morrem 150 pessoas por dia em acidentes laborais). Os doentes e os velhos têm a absurda pretensão de quererem ser tratados como gente. E as crianças teimam em ir à escola.
Talvez as economias europeias não estejam a conseguir gerar riqueza para sustentar o Estado-providência que nos habituamos a dar como adquirido. Mas também não é saudável que o tomate apanhado em Espanha vá ser transformado em concentrado na China e regresse de barco para ser vendido nas prateleiras dos supermercados a preços abaixo do que se fosse transformado no país de origem. […]

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