sábado, 2 de julho de 2011

A cobertura mediática da contestação social grega


Na Grécia vivem-se tempos conturbados, como todos sabemos. Têm-se sucedido os protestos, muitos deles violentos, contra o pacote de austeridade imposto pelo Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional. A comunicação social internacional tem-se dedicado ao acompanhamento da situação grega, que é seguida com especial interesse pelos portugueses, por estarmos também a começar a implementar um plano de reajustamento com as mesmas instâncias internacionais que eles.

As televisões e os jornais têm enviado equipas de jornalistas para fazerem extensivas reportagens sobre o evoluir dos acontecimentos, como também para nos darem um conhecimento mais profundo da realidade social (exemplo da reportagem publicada na revista Única do Expresso do fim-de-semana passado). Infelizmente, não podemos dizer que conhecemos bem o que se está a passar por lá.

Na quarta-feira, dia 29 de Junho, o parlamento grego aprovou por uma maioria reduzida o novo plano de austeridade que o país terá de implementar para continuar a beneficiar do empréstimo financeiro internacional. O principal partido da oposição, Nova Democracia, de centro direita e da família política europeia do PSD e do CDS, votou contra. Votou, aliás, no mesmo sentido de oposição a todas as medidas de austeridade que têm sido propostas no último ano. A comunicação social portuguesa esteve em peso em Atenas para cobrir a votação, tendo dado espaço mediático ao assunto, com transmissão de excertos dos discursos do Primeiro-Ministro Papandreou e do seu novo Ministro das Finanças. No entanto, nem um segundo foi dedicado ao porquê do voto da oposição. Pelos media nacionais é impossível perceber-se o porquê da posição do Nova Democracia, pois em momento nenhum lhes deram voz, em momento nenhum nos tentaram explicar o que pensam.

Independentemente de quem julgarmos que tem razão, este comportamento é uma limitação grave, um incumprimento até do dever de informar que está na base da razão de ser da comunicação social. Neste caso, como em tantos outros, não estão a servir de mediadores no acesso à informação. Estão-nos apenas a mostrar um dos lados. E isto condiciona em vez de libertar.

Se falo na Nova Democracia, poderia também falar nas outras forças políticas que também se opõem ao pacote de austeridade. E não é um problema deles. Foi desta mesma forma que os media internacionais noticiaram Portugal ao longo do último ano.

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